DIA DOS OCEANOS: PARQUE NATURAL MARINHO DO RECIFE DO ALGARVE GUARDA UM "TESOURO" DE BIODIVERSIDADE

Um "paraíso subaquático", como muitos o descrevem, são 156 quilómetros quadrados que servem de "casa segura" para 889 espécies de fauna e flora. No Dia Mundial dos Oceanos, a SIC Notícias publica um trabalho sobre este “tesouro” nacional de biodiversidade. Jorge Gonçalves, biólogo marinho do CCMAR, revela os segredos mais bem conservados das águas algarvias.

Praias, falésias, grutas e paisagens costeiras fazem das terras algarvias o destino de férias eleito por milhões de pessoas de todo o mundo. Mas é, também, nas profundezas das suas águas cristalinas que existe um património natural repleto de uma vasta biodiversidade única. O Parque Natural Marinho do Recife do Algarve - Pedra do Valado, que se estende entre a costa de Albufeira, Lagoa e Silves, promete a conservação e proteção dos seres vivos e gestão sustentável da pesca e do turismo, “tornando-se um sinal de esperança e conquista”.

É na Pedra do Valado que se situa o maior recife rochoso costeiro do Algarve, considerado, pelo presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo, como “o maior berçário marinho da região”, lê-se no site do município.

O Parque Natural Marinho do Recife do Algarve - Pedra do Valado foi a primeira área marinha protegida (AMP) a ser criada em Portugal continental no século XXI. Estende-se entre o Farol de Alfanzina e a Marina de Albufeira, até aos 50 metros de profundidade.

São 156 quilómetros quadrados de área protegida, que serve de abrigo seguro para 889 das 1.294 espécies existentes na costa algarvia.

Turismo, pesca, proteção e sustentabilidade

Turismo e pesca podem não parecer duas palavras que se relacionem com proteção e sustentabilidade, mas nesta área marinha protegida, tudo isso é possível.

“Para além de proteger a biodiversidade marinha e o património natural que temos nesta área, outro dos objetivos foi o de [incluir] atividades humanas, nomeadamente a pesca e o turismo, desde que sejam praticados de forma sustentável”, começou por explicar, à SIC Notícias, o biólogo marinho do Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR) Jorge Gonçalves.

No entanto, a dúvida - de que forma isso é possível? - pode, desde logo, surgir, mas o exemplo que o investigador deu mostra que, de facto, é mesmo possível:

“[O Parque Natural Marinho do Recife do Algarve - Pedra do Valado] pode contribuir para o turismo sustentável por participar na regulamentação dessa atividade. Aliás, as várias entidades que estiveram a lançar esta área marinha protegida estão a ajudar também no estabelecimento de regras à visita das Grutas de Benagil, que são uma das mais famosas do Algarve e que fica dentro do parque”.

Há também um conjunto de iniciativas que consta na lista para serem lançadas com as marítimo-turísticos, “no sentido de haver uma mudança de paradigma e uma mudança, nomeadamente, nos motores”.

Com o objetivo de transformar um turismo "menos massificado, menos ruidoso e mais verde”, a passagem dos motores atuais para os elétricos está também na lista de desejos.

“Neste parque pretende-se, realmente, efetivar as regras de aproximação, de convivência e "de capacidade de carga", não deixando de existir visitas às grutas e observação de cetáceos".

“O que interessa realmente é que a proteção seja efetiva e funcione. Porque na realidade, a maior parte das áreas marinhas protegidas em Portugal e no mundo são áreas marinhas protegidas em papel. Não funcionam”, criticou o biólogo marinho.

Proximidade às comunidades

A iniciativa da criação desta área protegida foi feita pela sociedade civil. A proposta foi entregue ao Governo no ano de 2021, depois de um processo participativo que decorreu ao longo de quase três anos, e que envolveu mais de 80 entidades.

“Em conjunto com a Fundação Oceano Azul, houve um desafio de iniciar um processo participativo inclusivo e democrata. Optámos por seguir um sistema novo para estabelecermos uma Área Marinha Protegida que fosse mais eficaz no futuro e mais compreendida, participada e respeitada. Isto permitiu chegar à sociedade, [contando com o apoio] das associações de pescadores, marítimo-turísticas e entidades regionais", disse o investigador do CCMAR.

A participação de associações de pescadores durante todo o processo é “muito importante”, referiu ainda Jorge Gonçalves.

Uma conquista, mas (ainda) com muito por fazer

Cada vez mais conhecida a nível mundial, Portugal “levou” a Pedra do Valado ao Dubai, para apresentar a área marinha protegida na COP28, que decorreu no ano passado.

“Acho que, para já, [o Parque Natural Marinho do Recife do Algarve - Pedra do Valado] é uma conquista… uma conquista das populações, uma conquista da ciência e também uma conquista daqueles que querem um futuro melhor e um oceano saudável. É um sinal de esperança para que ainda possamos fazer algo para melhorar a nossa vida e assegurar o futuro das nossas futuras gerações”, considerou o investigador do CCMAR.

Jorge Gonçalves, no entanto, deixou vários alertas ao novo Governo, sobretudo o que ainda está por fazer e o que tem ainda de ser aperfeiçoado futuramente. A comunicação, como enumerou em primeiro lugar, tem de melhorar. É preciso “sinalizar o parque, não só no mar, como no GPS e em terra”.

“As pessoas têm de saber que existe o [Parque Natural Marinho do Recife do Algarve - Pedra do Valado]. Têm de sentir que o parque é seu”, advertiu.

Em segundo lugar, o biólogo marinho não deixou passar em branco a necessidade de existir fiscalização nestas áreas protegidas, sendo até esse ponto “um dos primeiros” que os pescadores sempre mencionam.

“Nós tentamos fazer uma coisa diferente, com câmaras de infravermelhos, que podem permitir um seguimento em tempo real, para que aqueles que não estão autorizados a pescar dentro do parque possam, [pelo menos], serem avisados que não o podem fazer. E isso é muito importante e faz parte da implementação”.

Também uma medida “inovadora”, discutida no âmbito do processo participativo, foi a solicitação de compensações ao Governo por potenciais perdas no curto prazo, pensadas como uma “ajuda à adaptação e não para cobrir prejuízos”. Mas que, apesar de terem sido “aceites pelo Governo e incluídas no Orçamento do Fundo Ambiental deste ano, ainda não avançou”, lamentou Jorge Gonçalves.

“Já estamos em junho e ainda não avançou, portanto, também é uma das coisas que precisa de ser concretizada”, lamentou o biólogo marinho.

2024-06-08T22:52:21Z dg43tfdfdgfd