PELA SERRA ADENTRO – DO CâNTARO GORDO à LAGOA DOS CâNTAROS

Fascinados pela imponência da Estrela, partimos à sua descoberta, deixando as vias asfaltadas que rasgam a montanha e percorrendo os trilhos que contam estórias e nos fazem mergulhar pela história desta serra. Há poucos locais na Estrelatão representativos da sua história como o trilho que liga o Cântaro Gordo à lagoa dos Cântaros.

Do alto do Cântaro Gordo, contemplamos a paisagem da Estrela e as marcas que a última glaciação deixou impressas na superfície desta serra. A partir deste ponto, um dos três Cântaros da Estrela (Raso, Magro e Gordo), que durante a última Idade do Gelo esteve acima das neves perpétuas, iniciamos o nosso percurso de aproximadamente quatro quilómetros e de dificuldade mediana.

Descendo as paredes abruptas deste pico rochoso, chegamos ao Covão Cimeiro, o mais imponente circo glaciário da serra da Estrela. À nossa volta, as paredes graníticas pardacentas evidenciam a acção da enorme massa de gelo que há 30 mil anos enchia este grande “anfiteatro”.

Depois de contemplarmos a imensidão deste local, que nos faz sentir pequenos perante a natureza que se agiganta, continuamos a caminhada. Com olhos postos num outro Cântaro, o Magro, descemos cuidadosamente até ao Covão da Ametade, um local que tem tanto de belo como de enigmático. No meio de outros dois Covões (Cimeiro e o de Albergaria) (o que talvez justifique o topónimo invulgar), refrescamo-nos nas águas cristalinas do Zêzere que se despenha pela montanha.

Depois de uma pequena pausa para inspirar o ar puro deste recanto, voltamos ao nosso trilho. Seguimos pela margem esquerda do Zêzere, através da Rota do Maciço Central, acompanhando as margens do grande vale glaciário do Zêzere, outrora ocupado pelo glaciar com o mesmo nome. Pouco depois, seguimos pelo trilho à nossa esquerda, até encontrarmos a lagoa dos Cântaros, uma pequena lagoa no sopé do Cântaro Gordo, antigo circo glaciário que nos revela o passado geológico da montanha mais imponente de Portugal Continental.

O percurso conduz-nos através de blocos graníticos transportados pelo glaciar, vertentes abruptas que o gelo poliu, turfeiras que o tempo ajudou a desenvolver e uma paisagem marcada pelas águas do Zêzere e das inúmeras lagoas que o gelo de outros tempos ajudou a sulcar. Esta é uma viagem única pela história escrita na paisagem deste território distinguido pela UNESCO.

Artigo publicado originalmente na edição nº23 da Edição Especial Viagens "Paraísos de Portugal" (2021)

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