GERêS: CAMINHAR é PRECISO, VIVER NãO é PRECISO

No único parque nacional português, também Reserva da Biosfera da UNESCO, há muito para experienciar durante todo o ano. No Inverno, são sobretudo a força das ribeiras com as chuvas a dinamizar a paisagem e a possibilidade de ver neve nos picos mais altos a atrair visitantes. Já no Verão, as oportunidades abertas por banhos refrescantes e passeios mais longos são mais do que suficientes para gerar interesse.

No entanto, a imensa área ocupada pelo parque é habitualmente pouco explorada. Seguindo a nossa tradição de incentivar à descoberta do que é menos conhecido, deixamos aqui alguns sítios mágicos que se escondem numa região que Miguel Torga descreve, no sétimo volume dos seus diários, como uma daquelas geografias do mundo onde “tudo se conjuga para que nada falte à sua grandeza e perfeição”.

gerês para principiantes

1. Trilho Castrejo

Sem grandes dificuldades de desnível, mas longo, este percurso pedestre explora um lado mais esquecido do maciço do Gerês no concelho de Castro Laboreiro, em pleno território do lobo-ibérico. Tem como pontos de interesse o castelo de Castro Laboreiro e o lago de Gondramil, além de várias brandas e inverneiras, locais de repouso do gado e campos de pastagem. Antes de partir, fique a saber que as primeiras eram usadas na Primavera e no Verão; as segundas nos meses mais frios de Outono e Inverno. Se tiver a sorte de avistar algum lobo, mantenha a distância e tente passar o mais despercebido possível.

2. Trilho da Preguiça

Ideal para uma voltinha curta e vagarosa numa manhã ou tarde, a sua extensão de 4,5 quilómetros, de facto, convida a um descanso do almoço. Há uma ou outra subida mais inclinada, mas nada que ponha em causa o seu motor interno. Leve a família até à Casa do Guarda Florestal da Preguiça e suba a encosta do Arnado, com os seus pinhais e carvalhais a dar-lhe sombra. Ao longo do caminho, encontrará o miradouro da Preguiça, onde poderá observar largamente a albufeira da barragem da Caniçada, várias cascatas, das quais destacamos a de Leonte, uma das mais altas do Gerês, e o ribeiro da Laja e a ribeira da Cantina. 

3. Trilho da Mistura das Águas

Nunca o enviaríamos até ao Gerês sem uma visita a uma das suas famosas lagoas. Vamos afastar-nos das caravanas de turistas e estacionar o carro perto da Casa Florestal de Beleiral. É aqui que o caminho se inicia. Estará no centro do modo de vida serrano quase intacto, num lado mais escondido da serra da Peneda, em Arcos de Valdevez. Dominado por carvalhais – logo, fazer este percurso no Outono pode revelar-se uma ideia inspirada –, o trilho deve o nome à sua localização no encontro de três rios: o Veiga com o Peneda e este último com o Laboreiro. Sentirá a força das águas numa subida pelas margens do rio Laboreiro, na Lagoa dos Druidas

4. Trilho das Sete Lagoas

Uma lagoa não lhe basta? O Gerês oferece-lhe mais sete neste trilho de cerca de dez quilómetros com algum declive, ainda que perfeitamente controlável, a partir da aldeia transmontana de Xertelo (pertencente à freguesia de Cabril, tal como Fafião, a nossa Aldeia do Mês). Uma grande parte da rota é feita em estradão, mas a certa altura entrará numa vereda que desce muito gradualmente por um rochedo. É aí que vai dar com as sete lagoas que nomeiam este trilho. No Verão, leve fato de banho. Vai arrepender-se se não o fizer: a zona é tranquila e o corpo e o cenário podem estar a pedir relaxamento. Recomendamos apenas que não se aventure nos mortais encarpados para evitar engrossar a negra lista de pessoas que morrem todos os anos no Gerês devido aos mergulhos arriscados em zonas que desconhecem.

Gerês para caminhantes mais experientes

1. Fonte Fria

Montalegre, o concelho onde fica a nossa Aldeia do Mês, oferece uma perspectiva peculiar desta paisagem que é Reserva Biosfera da UNESCO: mais granítica e empedernida, menos verde. Não é por isso que fica a perder, como concluirá na aventura que é chegar à Fonte Fria.

Aos 1.458 metros, encontrará um dos pontos mais altos do parque, um rochedo de aspecto inóspito plantado a norte da aldeia de Pitões de Júnias. A aldeia em si vale uma paragem, com um abandonado mosteiro medieval a ser motivo de atracção. No caminho para a Fonte Fria, cruzar-se-á ainda com a Capela de São João da Fraga, um pequeno edifício religioso cujo autor é desconhecido, mas que espanta por estar no topo de um rochedo a mil metros de altitude. Uma coisa podemos garantir, se ainda não estiver convencido: a vista de todo o planalto de Pitões é magnífica.

Pelo caminho, as fragas do Paúl e de Brazalite, ambas em zonas de arvoredo, são difíceis de subir, mas oferecem uma vista esplêndida sobre a zona do planalto onde habitualmente andam à solta manadas de garranos. Mas é da Fonte Fria que, de facto, a observação é de 360º e atinge Portugal e Espanha. De um lado, poderá observar o árduo caminho que já percorreu e, ao longe, a albufeira das barragens da Paradela e do Alto Lindoso; do outro, já nos país vizinho, a albufeira de Salas. Não é a mais fácil das caminhadas, exigindo alguma destreza física, mas vale cada gota de suor.

  • O trilho: A versão mais curta envolve 13 quilómetros num percurso circular e pode encontrá-la aqui. Se o seu nível de resistência estiver nos píncaros, pode optar por acrescentar mais 22 quilómetros à aventura e encontrar o Pico da Nevosa, o local mais alto de todo o maciço do Gerês. De qualquer forma, nunca saia do trilho sinalizado.

2. Rocalva

Com a Roca Negra, Rocalva é um daqueles pontos fundamentais para se conhecer o Gerês, já no concelho de Terras de Bouro. Encontramo-nos numa zona de terras cultivadas pelos habitantes das aldeias, tendo os prados nomes tão icónicos como Rocalva, Conho ou Vidoal. Na verdade, não é muito difícil entender a origem do nome de ambos os mastodontes de rocha: a Rocalva é alta e branca, quase pálida, enquanto a Roca Negra… bem, vocês entendem a ideia.

Há várias formas de chegar a Rocalva, mas a mais simples passa por deixar o carro junto à Casa do Guarda na Mata de Albergaria. Enverede, a partir daí, pelo trilho marcado, iniciando uma subida gradual que o conduzirá ao primeiro prado do dia. Daí, deve continuar a seguir a marcação, quer de mariolas quer dos sinais pintados, e estará no topo do monte. Deste ponto, terá uma visão espectacular sobre o prado da Rocalva e as duas rochas irmãs. Agora, aqui a decisão está nas suas mãos: ou segue directo para o prado do Vidoeirinho, contornando as duas irmãs; ou, se estiver afim de uma aventura mais arrojada, é possível subir até ao topo da Roca Negra. Porém, caso não se sinta confiante, não tente. O caminho existe, mas exige alguma destreza.

Se tiver optado pelo primeiro trajecto, sugerimos que almoce junto à Cabana do Prado do Vidoeirinho, enquanto contempla os dois grandes rochedos que tão bem se enquadram na paisagem. Daqui, pode voltar para trás ou então seguir na direcção do Prado da Messe, acompanhando o trilho. A partir daí é seguir para junto da estrada de alcatrão em plena Mata de Albergaria. Seja na versão mais fácil ou na mais difícil, será uma experiência que lhe acrescentará muito ao álbum de memórias.

  • Os trilhos: aqui está um trilho que cruza tanto a Rocalva como a Roca Negra, para além deste;  se quiser desafiar-se ainda mais, siga este outro trilho.

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