João Paulo Martins revela os grande segredos do setor vinícola
O Ribatejo é, como todo o país, terra de vinhas. Como sabemos, onde há um português com algum pedaço de terra pode acontecer uma de três coisas (eventualmente cumulativas): se for minúsculo, há uns canteiros de flores com cravos ou rosas; se for um pouquinho maior (quaisquer cinco metros quadrados chegam...) então teremos couves, pela certa: couve galega e, aqui e ali, uns alhos e cebolas; já se o terreno for um pouco maior então teremos uns pés de vinha e, à beira da casa, uma latada com cepas de uva morangueira, essa variedade milagrosa que faz imensa sombra e com a qual não se gasta um cêntimo ao longo do ano. É podar e esperar. Ligam-me a esta zona laços familiares e foi por lá, no concelho de Tomar, que sempre passei os longos meses de férias. Só muitos anos mais tarde percebi que aquelas terras de xisto, material com que se faziam as casas, eram também solos para vinha, como o Douro nos veio também lembrar. Mas a região ribatejana é suficientemente grande para englobar solos e microclimas variados, desde o aluvião nas margens do Tejo até terras pedregosas e inóspitas na charneca e terrenos de areia que se ligam, a sul, à região de Palmela. Aqui se origina cerca de 10% da produção nacional de vinho; cerca de 40% é certificado, sobrando muito vinho para alimentar o negócio do granel que, diga-se, é uma espécie de pronto-socorro para momentos de carência e, ainda que não seja tema de manchetes na imprensa, é negócio muito importante. Aqui e, sobretudo, na vizinha Espanha. No Ribatejo não há, assim, um solo típico como não há um vinho ribatejano modelar. Há muita variedade. Hoje trago dois deles, um exatamente da região de Tomar, a tal zona que ninguém recorda como sendo berço de vinhos notáveis, mas onde existem muitas vinhas velhas polvilhadas de Fernão Pires, de Castelão, de Trincadeira e até da casta Baga. O que é preciso é descobri-las e, depois, ser capaz de moldar o vinho sem desvirtuar o local. É o que Pedro Sereno, também ele filho da terra, está fazer na região, além de aventuras noutras zonas, como Portalegre. Lançou recentemente, com muita qualidade, três novas colheitas com chancela tomarense. Mais para sul, na zona de Almeirim, a Falua traz-nos um tinto de recorte modernaço, com as novas castas que a região adotou quando tocaram a rebate os sinos da reconversão. Desta casa, e com mão enológica muito segura, saem vinhos de ótima relação preço/prazer e também topos de gama de altíssimo nível de que falarei noutra crónica. Este lote foi feito em conjunto com sommeliers e daí o nome que tem. A marca Conde Vimioso sempre foi um porto seguro, um vinho que não falhava. É também a este tipo de vinhos que o consumidor se liga porque sabe que quando volta a comprar não vai ter desilusões. A ideia de que esta colheita foi ótima mas a seguinte foi fraca ou horrível porque “é a expressão do terroir”, é história para meninos. Romântica sim, realista não. Ninguém sobrevive neste negócio a fazer vinhos para meia dúzia de consumidores que toleram os deslizes. E quando há contas e salários para pagar, lá se vai o romantismo. Para refrescar a alma juntamos um espumante do Dão, um branco feito de uvas tintas. Mais uma oportunidade para a Touriga Nacional brilhar.
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2023-03-18T10:43:43Z dg43tfdfdgfd